O tenente-coronel Mauro Cid afirmou à Polícia Federal (PF) que advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro se comunicaram com sua filha menor, sua esposa e sua mãe com a intenção de influenciar sua delação premiada. Cid, que forneceu às autoridades informações sobre uma conspiração golpista no antigo governo, considera esses contatos como uma tentativa de obstruir a Justiça.
Acusações de Obstrução de Justiça
Segundo a defesa de Cid, os advogados Paulo Cunha Bueno e Fábio Wajngarten estavam buscando detalhes sobre sua delação e tentando convencê-lo a não prosseguir com as acusações. Na quarta-feira (25), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes solicitou que a PF ouvisse os depoimentos de Bueno e Wajngarten, que já atuou como assessor de Bolsonaro. Moraes é o relator do caso penal que envolve o que é chamado de núcleo crucial da conspiração, que inclui Cid e Bolsonaro entre os oito réus.
Contatos Constantes e Denúncias
No seu depoimento à PF na terça-feira (24), Cid relatou que, ao examinar o celular de sua filha, descobriu comunicações frequentes entre os advogados Luiz Eduardo de Almeida Kuntz e Fábio Wajngarten e sua filha, através dos aplicativos WhatsApp e Instagram. Ele indicou que essas trocas de mensagens ocorreram de forma constante entre setembro de 2023 e o início de 2024. Kuntz é advogado do coronel Marcelo Câmara, também réu no caso do golpe, e recentemente solicitou que o Supremo anulasse a delação de Cid.Cid também mencionou que Kuntz alegou ter discutido informações sobre sua delação no início de 2024, via um encontro pessoal e através de um perfil falso, Gabrielar702, no Instagram. O advogado argumentou que isso teria violado o segredo de suas declarações, invalidando sua colaboração com as autoridades. A empresa Meta, que é responsável pelo Instagram, confirmou à corte que o perfil foi registrado com um e-mail que pertence a um usuário nascido na mesma data de Cid.Cid refutou ter discutido sua delação com Kuntz ou ter conexão com a conta do Instagram, reiterando que sua colaboração foi feita de maneira voluntária. Ele ainda enfatizou que o advogado tinha abordado ele e sua família em eventos que ocorreram em hípicas em Brasília e São Paulo.O tenente-coronel relatou uma aproximação feita à sua mãe, Agnes, em um evento na Hípica de São Paulo. Durante esse evento, estava presente também o advogado Paulo Bueno, defensor de Bolsonaro, onde sua filha estava competindo.Sobre os motivos para os advogados contatarem sua família, Cid mencionou que acredita que o objetivo de Kuntz era obter informações sobre seu acordo de colaboração e, assim, obstruir as investigações, utilizando a inocência de sua filha menor. No depoimento, ele afirmou acreditar que áudios que parecem mostrar conversas com Kuntz foram gravados de forma involuntária e editados.Kuntz negou qualquer tentativa de obstruir a Justiça. No entanto, o ministro Moraes decidiu pela prisão de seu cliente, coronel Marcelo Câmara, por achar que ele violou as condições de não usar redes sociais ou contatar outros investigados através de seu advogado.A Agência Brasil tentou contatar o advogado Paulo Bueno da Cunha. Nas redes sociais, após a determinação de Moraes sobre seu depoimento à PF, Wajngarten declarou que a criminalização da advocacia é uma cortina de fumaça para encobrir a manifesta falta de voluntariedade do réu delator Mauro Cid e a consequente nulidade da colaboração.