O dólar começou a terça-feira (17) em alta, atingindo R$ 6,15, impulsionado por preocupações em relação às incertezas fiscais e as previsões de novos ajustes na taxa Selic. Mesmo com a atuação do Banco Central (BC) para diminuir a pressão sobre a moeda, a valorização da moeda americana continuou forte.
Cenário fiscal pressiona o dólar e juros no Brasil
No ponto mais alto do dia, o dólar alcançou R$ 6,16, refletindo a instabilidade do cenário econômico e as incertezas dos investidores acerca da aprovação de um pacote fiscal em tramitação no Congresso. O avanço do dólar é impulsionado principalmente pela incerteza em relação ao quadro fiscal brasileiro. O governo apresentou um pacote de corte de gastos em novembro, com uma projeção de economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, que ainda precisa ser votado no Congresso Nacional.
Os investidores estão observando de perto a credibilidade fiscal do país, já que a inação pode agravar a percepção de risco e ampliar a pressão sobre a taxa de câmbio. O governo espera que a votação ocorra ainda esta semana, antes do recesso parlamentar.
Intervenção do Banco Central: medidas e efeitos
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ressaltou que o presidente Lula tem reiterado a importância de que as medidas não sejam reduzidas, assegurando o equilíbrio das contas públicas. Para lidar com a elevada valorização do dólar, o Banco Central promoveu um leilão de venda à vista da moeda americana, disponibilizando US$ 1,27 bilhão com uma taxa de câmbio de R$ 6,10. Embora tenham reduzido temporariamente a pressão, os efeitos foram limitados, e a tendência de alta do dólar continuou.
Na ata do Copom, o Banco Central indicou a necessidade de continuar elevando a taxa básica de juros em futuras reuniões, com o intuito de controlar a inflação e mitigar o impacto da moeda elevada nos preços.
“O Comitê deve acompanhar com mais atenção como a oscilação da taxa de câmbio e as condições financeiras influenciam os preços e a atividade econômica”, destacou o BC.
Expectativas para a taxa Selic e reação do mercado
Na última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a Selic em 1 ponto percentual, alcançando 12,25% ao ano. A ata sugeriu que outras altas semelhantes devem ocorrer nos primeiros meses de 2025, podendo levar a taxa Selic a 14,25% ao ano. Essa expectativa de juros mais altos afeta diretamente o mercado financeiro, com investidores buscando mais segurança em ativos dolarizados. As taxas de juros elevadas também impactam o crédito e a atividade econômica, criando um ambiente desafiador para o crescimento do país.
Pacote fiscal: tensão no Congresso e repercussões
O pacote de medidas fiscais proposto pelo governo visa controlar o déficit nas contas públicas. Uma das propostas é a restrição no aumento do salário mínimo, que enfrenta resistência no Congresso. Se o pacote não for aprovado, o quadro fiscal poderá se deteriorar, intensificando as pressões sobre o mercado financeiro brasileiro. A percepção negativa dos investidores em relação ao pacote já afetou as expectativas de inflação e elevado o prêmio de risco, contribuindo para o cenário difícil que o Brasil enfrenta.
Até às 10h10, o dólar mostrava uma alta de 0,95%, cotado a R$ 6,15. O Ibovespa, principal índice da B3, também estava sob pressão, com uma queda de 0,84% no dia anterior, alcançando 123.560 pontos.
Conclusão: O que esperar do dólar e da economia brasileira?
Diante das incertezas do cenário fiscal e as previsões de juros elevados em 2025, o preço do dólar tende a permanecer em níveis altos. As intervenções do Banco Central podem oferecer um alívio temporário, mas soluções estruturais, como a aprovação do pacote de medidas fiscais, são cruciais para restaurar a confiança dos investidores e estabilizar o mercado. O próximo passo dependerá do Congresso e da capacidade do governo de implementar as medidas necessárias para conter o déficit fiscal. Enquanto isso, a atenção do mercado permanece nas decisões do Banco Central e nas dinâmicas do cenário político e econômico brasileiro.