O recente evento na Assembleia Legislativa de Minas Gerais marcou um importante passo para as famílias de 63 pessoas assassinadas durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), cujos óbitos foram registrados com causas falsas. A solenidade, realizada na quinta-feira (28), visou a entrega de documentos que retificam a situação dessas vítimas, que haviam sido consideradas desaparecidas. Além disso, os registros abrangem pessoas que nasceram, faleceram ou desapareceram no estado.
Retificação e Significado do Evento
A ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, destacou a carga simbólica e o significado daquele ato. Ela mencionou que no passado, defender direitos e a cidadania era sinônimo de resistência contra o regime autoritário que dominava o Brasil. Evaristo também sublinhou que a repressão vitimou operários, trabalhadores, intelectuais, estudantes e diversos ativistas que ousaram atuar criticamente na sociedade. Segundo ela, o Brasil ainda carrega profundas sequelas dos períodos de opressão, que perduram em várias comunidades até os dias atuais.
Memória e Reconhecimento das Vítimas
Durante o evento, a presidente da comissão de mortos e desaparecidos políticos, Eugênia Gonzaga, recordou que as vítimas durante a ditadura foram frequentemente registradas com causas de óbito distorcidas, como suicídios ou acidentes. Somente em 1995, dez anos após o fim formal da ditadura, o Estado reconheceu que as mortes ocorreram sob pressão policial. Embora esse reconhecimento ainda fosse insuficiente, representou um avanço significativo para as famílias que buscavam por justiça.
Após uma pausa nos trabalhos da comissão, ela foi reativada em agosto do ano passado. A ministra Evaristo expressou seu desejo de que, junto aos documentos, as famílias recebam um pedido de desculpas sincero. O evento também contou com a presença da ministra Maria Elizabeth Rocha, do Superior Tribunal Militar, que compartilhou sua experiência pessoal, sendo cunhada de um desaparecido político, e expressou a dor que esse legado deixou nas famílias.
No encerramento da cerimônia, muitos familiares relataram o impacto emocional que a nova documentação teve em suas vidas, mesmo que tenham perdido a oportunidade de reencontrar seus entes queridos. A militante Diva Santana, que perdeu uma irmã na repressão da década 1970, reforçou a importância da luta pela memória e pela soberania do país, instando as novas gerações a continuarem essa batalha.