No início da madrugada desta quinta-feira (10), o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) iniciou uma greve de fome, estabelecendo acampamento no plenário 5 do Anexo 2 da Câmara dos Deputados. A sua decisão foi uma reação à aprovação, pelo Conselho de Ética, de um parecer que recomenda a cassação de seu mandato devido à quebra de decoro parlamentar, resultado de 13 votos a favor e 5 contra.
Contexto da Greve de Fome
Braga é acusado de agredir um militante de extrema-direita, mas se declara vítima de uma perseguição política, alegando que sua atuação contra o Orçamento secreto motivou tais acusações. Para conservar suas energias, ele decidiu não se comunicar com a imprensa, embora tenha acenado para uma reportagem da Agência Brasil, afirmando que está tudo bem. Sem ingerir alimentos desde a terça-feira (8) devido à ansiedade antes da reunião do Conselho de Ética, ele relata estar há 30 horas consumindo apenas líquidos e enfatiza que não permitirá que Arthur Lira e o Orçamento secreto o derrotem. Vou até as últimas consequências, postou nas redes sociais na manhã de hoje (10).
Acompanhamento Médico e Reações Políticas
A assessoria do deputado informou que ele está sob supervisão médica, apresentando pressão arterial estável e pesando 91,7 quilos. Ele teve um consumo moderado de líquidos, incluindo dois copos de isotônico e água na manhã desta quinta-feira. A princípio, a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) havia manifestado a intenção de se juntar a ele na greve, mas acabou convencida a adotar outros métodos de protesto.
A equipe de Glauber Braga esclareceu que o propósito da greve de fome é chamar a atenção para a perseguição política que ele enfrenta, assim como pressionar por um desfecho na situação, temendo que a Câmara possa postergar indefinidamente o processo que já dura mais de um ano. Ele se defende de uma representação apresentada pelo partido Novo, vinculando a questão à sua intervenção contra um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) que ofendeu sua mãe. Para Braga, a punição é desproporcional em comparação com outras infrações semelhantes na Câmara.
O deputado atribui a sua situação a uma perseguição orquestrada por Arthur Lira (PP-AL) e Paulo Magalhães (PSD-BA). Segundo ele, Lira teria influenciado a aprovação do parecer em troca de recursos de Orçamento secreto para Magalhães. Braga afirma que recorrerá à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e destaca que, se a votação do Conselho for confirmada, o assunto ainda precisará ser analisado pelo plenário da Câmara. Os partidos PT e PSOL já comunicaram seu plano de bloquear as atividades da Casa em protesto à decisão do Conselho de Ética. O líder do PT, Lindbergh Farias (PT-RJ), defendeu que o caso precisa ser discutido entre os líderes partidários, afirmando que a votação foi um erro.
Críticas ao Orçamento Secreto
Como deputado, Glauber Braga é um dos mais vocais críticos do Orçamento secreto, que permite o uso de recursos públicos através de emendas parlamentares sem divulgação dos autores e alocação dos verbas. O PSOL contestou essa prática no Supremo Tribunal Federal (STF), resultando em uma exigência de maior transparência, levando o Congresso a modificar as normas de emenda.
Arthur Lira desmentiu as alegações feitas por Braga, ressaltando que a denúncia teve origem no partido Novo e não por sua iniciativa. Ele repudiou qualquer insinuação de irregularidades, advertindo que acusações sem fundamento podem resultar em ação judicial. A assessoria de Paulo Magalhães não respondeu às solicitações até a conclusão deste relato, tendo o relator optado por não tratar das acusações durante as sessões do Conselho de Ética, por considerar essa a estratégia de defesa de Braga.