No último dia 11, o Palácio da Justiça de São Paulo foi palco de uma emocionante reconstituição histórica. Para celebrar os 92 anos da Revolução Constitucionalista, dezenas de alunos-oficiais da Academia de Polícia Militar do Barro Branco encenaram o episódio marcante que deu início ao conflito: uma manifestação em prol de uma nova Constituição para o Brasil e contra o regime de Getúlio Vargas.
A encenação, que ocorreu no Salão dos Passos Perdidos, reuniu cerca de 200 mil paulistas voluntários que se inspiraram na coragem dos mártires de 1932. O evento contou com a participação de oficiais como Felipe Cardoso, responsável por liderar os soldados, e Bárbara Alves, integrante do pelotão de enfermeiras. Ambos destacaram a importância da Revolução como inspiração para suas carreiras e ressaltaram os valores de coragem, civismo e desejo de lutar pela sociedade que foram cultuados pelos combatentes da época.
Uma tradição que se mantém viva
A reconstituição da Revolução de 1932 acontece anualmente no Tribunal de Justiça de São Paulo desde 2018. Antes disso, já era uma tradição na Polícia Militar, com apresentações em outras instituições. A coordenação do evento fica a cargo do capitão PM Fernando Antonio de Moura, da Diretoria de Educação e Cultura da PM.
O capitão Moura ressalta que a encenação vai além de uma simples atuação cênica, é considerada uma missão. Além de organizar a apresentação e realizar treinamentos, ele também faz a locução, contextualizando a insatisfação da sociedade paulista com o governo Vargas e destacando a mobilização popular que antecedeu o conflito armado.
Na plateia, estiveram presentes Douglas de Albuquerque Alvarenga e sua filha, Júlia, respectivamente neto e bisneta de Orlando de Oliveira Alvarenga, um dos mártires da revolução. Douglas emocionou-se com a visita ao Palácio da Justiça e ressaltou a importância de manter viva a memória dos combatentes e dos ideais de liberdade, democracia e respeito à Constituição pelos quais lutaram.
O legado da Revolução de 1932
O conflito que teve início em 9 de julho de 1932 durou 87 dias e resultou na morte de mais de 2 mil pessoas. Apesar da derrota no campo de batalha, a revolução foi considerada uma vitória no campo dos ideais, levando à convocação da Assembleia Constituinte que resultou na Constituição de 1934.
A Revolução de 1932 ocupa um lugar especial na história do Tribunal de Justiça de São Paulo. Diversos operadores do Direito da época apoiaram a causa paulista, inclusive o então presidente do Tribunal, ministro Manoel da Costa Manso. Nomes como Theodomiro Dias, Adriano Marrey e Odilon da Costa Manso se destacaram nas trincheiras do confronto.
O Palácio da Justiça, sede do Judiciário paulista, mantém um acervo histórico do conflito no Espaço Cultural Poeta Paulo Bomfim. Além disso, uma exposição itinerante chamada A Revolução em 32 Quadros foi projetada pelo Centro de Memória Eleitoral (Cemel) e pelo Museu do TJSP para preservar e eternizar o legado dessa história viva. Como dizem os versos de Paulo Bomfim, enquanto houver esperança e enquanto os mortos forem lembrados, sempre será 9 de julho.